Por que o Metaverso não colou?
- Darci de Borba
- 16 de jun. de 2023
- 5 min de leitura

Nos últimos anos, a tecnologia de realidade virtual (VR) e realidade aumentada (AR) fez promessas ousadas de transformar a forma como interagimos com o mundo digital. Com promessas de imersão completa, a ideia de um "metaverso" - um universo paralelo digital onde as pessoas podem interagir em tempo real, assumir avatares e experimentar mundos além da realidade física - tem sido a visão futurista de muitas empresas de tecnologia.
Mas apesar de todo o entusiasmo e investimento, a pergunta que ainda ronda é: por que o metaverso não colou?
Barreiras Tecnológicas e Culturais
Primeiramente, é importante entender que a criação de um metaverso plenamente funcional e imersivo é um desafio tecnológico enorme. A construção desse universo virtual envolve superar obstáculos técnicos em áreas como processamento gráfico, latência da rede, design de interface do usuário e, talvez o mais desafiador, criar uma experiência convincente e imersiva que as pessoas queiram usar regularmente (Sutherland, 1968).
Além disso, há barreiras culturais a serem consideradas. A ideia de passar horas em um mundo virtual é algo que muitas pessoas ainda acham estranho ou desconfortável. Ainda estamos nos acostumando com o conceito de realidade virtual e realidade aumentada, e pode levar tempo para que as pessoas aceitem a ideia de viver grande parte de suas vidas em um metaverso (Bailenson, 2021).
O papel da privacidade e da segurança
Outra barreira significativa para a adoção em massa do metaverso é a preocupação com a privacidade e a segurança. No metaverso, a quantidade de dados pessoais que poderiam ser coletados sobre um indivíduo é potencialmente vasta. A forma como esses dados são armazenados, usados e protegidos será uma questão crucial para a aceitação do metaverso (Schneier, 2015).
A questão da segurança também é crítica. Como manteremos os usuários seguros em um mundo virtual onde as fronteiras entre o real e o virtual são borradas? Essas preocupações ainda não foram totalmente resolvidas e podem estar contribuindo para a lentidão na adoção do metaverso.
O "Timing" das Tecnologias
Existem muitos exemplos de tecnologias que foram lançadas antes de seu tempo, e o Google Glass é um deles. Lançado em 2013, o Google Glass era um dispositivo wearable de AR que prometia entregar informações diretamente aos olhos do usuário. No entanto, o Google Glass encontrou uma série de obstáculos que impediram sua adoção em massa.
O Caso do Google Glass
Primeiro, a tecnologia não estava completamente pronta. Os usuários reclamaram de problemas com a duração da bateria, dificuldades de interface e desconforto ao usar os óculos por longos períodos (Klein et al., 2015). Além disso, o Google Glass enfrentou uma forte reação pública por preocupações com a privacidade, já que as pessoas estavam desconfortáveis com a ideia de serem gravadas sem seu conhecimento (Sawyer et al., 2014).
Esses problemas destacam a importância do "timing" na introdução de novas tecnologias. É crucial não apenas desenvolver uma tecnologia inovadora, mas também lançá-la no momento em que a sociedade está pronta para aceitá-la. No caso do Google Glass, a tecnologia foi lançada antes que a sociedade estivesse pronta para aceitá-la, e antes que a própria tecnologia estivesse pronta para ser usada de forma eficaz.
Isso serve como um aviso para o metaverso. Embora a tecnologia possa estar avançando rapidamente, ainda pode levar tempo para que a sociedade esteja pronta para adotar completamente essa nova forma de interagir com o mundo digital.
Reavaliações Estratégicas
A notícia recente de que tanto a Microsoft quanto o Facebook decidiram abandonar seus respectivos projetos de metaverso em suas unidades levantou muitas sobrancelhas no setor de tecnologia. Ambas as empresas tinham sido defensoras públicas da visão do metaverso e tinham investido significativamente em suas próprias versões dessa tecnologia emergente.
No caso da Microsoft, os relatórios sugerem que a empresa decidiu mudar o foco para melhorar e expandir suas ofertas existentes de nuvem e inteligência artificial (AI), em vez de investir em um conceito ainda não comprovado como o metaverso. Isso está alinhado com a abordagem mais pragmática da Microsoft em relação à inovação tecnológica, optando por aprimorar e aprofundar suas forças existentes em vez de buscar novas e incertas oportunidades de mercado.
O Facebook, por outro lado, tem sido um dos defensores mais vocais da ideia do metaverso. A decisão de abandonar seu projeto de metaverso é, portanto, surpreendente e sugere uma reavaliação significativa de sua estratégia futura. As razões por trás dessa mudança ainda não são totalmente claras, embora possam estar relacionadas a uma série de fatores, incluindo a crescente pressão regulatória, preocupações com privacidade e segurança, ou simplesmente a avaliação de que a tecnologia e o mercado ainda não estão prontos para um metaverso plenamente funcional.
Essas decisões de ambas as gigantes da tecnologia servem como um lembrete de que a jornada para o metaverso é incerta e cheia de desafios. Enquanto a visão do metaverso continua a ser atraente, a realidade prática de torná-la uma realidade é complexa e difícil. E, como sempre, a adoção de qualquer nova tecnologia depende não apenas de sua viabilidade técnica, mas também de sua aceitação social, regulamentação governamental e uma série de outros fatores que podem ser ainda mais desafiadores de navegar.
Para o Futuro
O metaverso ainda está em sua infância, e é possível que ainda não tenhamos visto o seu verdadeiro potencial. É importante lembrar que todas as tecnologias disruptivas levam tempo para serem adotadas em massa. A internet, por exemplo, levou anos para se tornar onipresente, e mesmo assim, teve que superar uma série de obstáculos técnicos e culturais (Katz & Aspden, 1997).
Com o tempo, é provável que vejamos melhorias significativas na tecnologia de realidade virtual e aumentada, bem como na segurança e na proteção de dados. Isso pode ajudar a acelerar a adoção do metaverso. No entanto, a aceitação do metaverso não depende apenas de avanços tecnológicos, mas também de mudanças culturais e sociais.
O metaverso é uma visão ousada e excitante do futuro da interação humana e da tecnologia. No entanto, é claro que ainda temos um longo caminho a percorrer antes que essa visão se torne uma realidade para a maioria das pessoas.
A pergunta que fica é: estamos prontos para fazer a transição para a vida em um mundo virtual?
Essa é uma questão que todos nós, como sociedade, precisaremos responder.
Referências:
Sutherland, I. E. (1968, December). A head-mounted three dimensional display. In Proceedings of the December 9-11, 1968, fall joint computer conference, part I (pp. 757-764).
Bailenson, J. N. (2021). Nonverbal overload: A theoretical argument for the causes of Zoom fatigue.
Schneier, B. (2015). Data and Goliath: The hidden battles to collect your data and control your world. WW Norton & Company.
Katz, J. E., & Aspden, P. (1997). A nation of strangers?. Communications of the ACM, 40(12), 81-86.
Klein, A., De Freitas, A. S., Pedron, C. D., & Elaluf-Calderwood, S. (2015). Who is afraid of Google Glass? Mapping the controversy about wearable and ubiquitous computing. Academy of Management Proc, Vancouver, Canada. https://doi. org/10.5465/ambpp. 2015.11235 abstract.
Sawyer, B. D., Finomore, V. S., Calvo, A. A., & Hancock, P. A. (2014). Google glass: A driver distraction cause or cure?. Human factors, 56(7), 1307-1321.





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