Inteligência superficial: o paradoxo do uso da IA e a crise da inteligência natural
- Darci de Borba
- 12 de jan.
- 2 min de leitura

O advento da inteligência artificial (IA) trouxe avanços extraordinários para a sociedade contemporânea. Ferramentas como ChatGPT, MidJourney e algoritmos de análise de dados tornaram-se instrumentos indispensáveis para resolver problemas, automatizar processos e melhorar a eficiência. No entanto, devemos nos perguntar: até que ponto essas tecnologias estão realmente enriquecendo nossas habilidades cognitivas?
Estudos recentes revelam que a IA pode nos levar a pensar sobre a dependência crescente de soluções automáticas. Essa dependência estaria nos afastando da profundidade cognitiva que caracteriza nossa inteligência natural. Será que estaríamos, paradoxalmente, regredindo em nossa capacidade de pensar criticamente e criar soluções inovadoras enquanto avançamos tecnologicamente?
O impacto da IA na cognição humana
Alguns estudos sugerem que o uso frequente de assistentes digitais e ferramentas de IA pode estar alterando a maneira como nos engajamos com o aprendizado e a resolução de problemas. Dowding (2024) discute como a dependência de algoritmos pode diminuir a capacidade humana de tomar decisões complexas. Nicholas Carr, em seu livro The Shallows: What the Internet Is Doing to Our Brains, aponta que a exposição constante a ferramentas digitais afeta nossa capacidade de foco e reflexão profunda. Ainda assim, seria justo generalizar que toda tecnologia leva à superficialização? E se, na verdade, o problema não está na ferramenta, mas em como a utilizamos?
A superficialização é uma conseqüência inevitável ou seria apenas uma escolha? Em ambientes educacionais, o uso de IA para gerar resumos automáticos e respostas instantâneas pode ser visto tanto como uma vantagem quanto como um problema. Por um lado, essas ferramentas economizam tempo e tornam o conhecimento mais acessível. Por outro, promovem uma aprendizagem mais rápida, mas menos profunda.
Em 2023, a UNESCO publicou um relatório sobre o impacto da IA na educação, destacando que a tecnologia pode ampliar as desigualdades de aprendizado se usada de forma descontextualizada.
Enquanto refletimos sobre a inteligência superficial, é essencial resgatar a ideia de inteligência natural. Howard Gardner, em sua teoria das inteligências múltiplas, argumenta que a cognição humana é diversificada, abrangendo desde habilidades lógicas até emocionais e interpessoais. No entanto, estamos cultivando essas capacidades em um mundo dominado por soluções automáticas.
Um futuro híbrido
Talvez o caminho não esteja em rejeitar a tecnologia, mas em usá-la de forma consciente. Como podemos integrar a IA em nossas vidas sem comprometer nossa capacidade de pensar profundamente? Uma "alfabetização digital" que enfatize o uso crítico e reflexivo da tecnologia poderia ser a solução. Além disso, precisamos incentivar a educação baseada em experiências reais e no aprendizado ativo, onde a tecnologia seja uma ferramenta, e não um substituto.
A ascensão da inteligência artificial traz benefícios inegáveis, mas também desafia nossa inteligência natural a não se perder no processo. Em vez de aceitar passivamente as respostas prontas, é nosso papel questionar: como podemos garantir que a inteligência superficial não supere nossa capacidade de pensar criticamente. A resposta pode estar em como escolhemos equilibrar tecnologia e humanidade.
Referências
Carr, N. (2020). The Shallows: What the Internet Is Doing to Our Brains. W. W. Norton & Company.
Gardner, H. (2011). Frames of Mind: The Theory of Multiple Intelligences. Basic Books.
UNESCO. (2023). Artificial Intelligence in Education: Challenges and Opportunities. UNESCO Publishing.
Dowding, K., & Taylor, B. R. (2024). Algorithmic Decision-Making, Agency Costs, and Institution-Based Trust. Philosophy & Technology, 37(2), 68.
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